No Ceará, o dia 19 de março, Dia de São José, é mais do que uma celebração religiosa. O santo, padroeiro do estado, está historicamente associado à esperança dos agricultores, que veem a chuva nesta data como um sinal positivo para a quadra chuvosa. No entanto, embora a fé e a cultura popular tenham um papel essencial na identidade do povo cearense, a ciência mostra que a precipitação nesse dia específico não tem influência direta na qualidade da estação chuvosa.
O mito e a meteorologia
A crença de que chover no Dia de São José é um indicativo de um bom inverno agrícola atravessa gerações. A lógica popular sugere que, caso a chuva ocorra, os meses seguintes também serão bem abastecidos, garantindo colheitas prósperas. Mas os estudos meteorológicos apontam que essa relação não se sustenta cientificamente.
Dados do Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet) e da Fundação Cearense de Meteorologia e Recursos Hídricos (Funceme) demonstram que as precipitações no dia 19 de março não são um fator determinante para prever o comportamento do restante da estação. O padrão climático do Ceará é influenciado principalmente pela Zona de Convergência Intertropical (ZCIT), um sistema atmosférico que atua sobre o Nordeste e cuja variabilidade depende de fatores como a temperatura do Oceano Atlântico e do Pacífico.
Análises e previsões confiáveis
Meteorologistas explicam que a previsão da quadra chuvosa (fevereiro a maio) deve ser feita com base em análises mais abrangentes, como os modelos climáticos e os históricos de comportamento atmosférico. O que ocorre em um único dia, como o 19 de março, não é suficiente para definir uma tendência para os meses seguintes.
Além disso, levantamentos históricos mostram que houve anos em que choveu no Dia de São José e, mesmo assim, a quadra chuvosa foi abaixo da média, assim como houve anos sem chuva na data e com bons volumes ao longo da estação.
Ciência e fé: um equilíbrio possível
A desconstrução do mito não significa negar a importância da fé para os cearenses. A devoção a São José continua sendo um elemento forte da cultura local e, para muitos, um símbolo de esperança. No entanto, ao mesmo tempo, é essencial que os agricultores e gestores públicos baseiem suas decisões em dados científicos confiáveis para um planejamento mais eficiente do uso da água e da produção agrícola.
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